domingo, 23 de outubro de 2011

Vida em Família




_________________
Joanna de Ângelis.


Os filhos não são cópias xerox dos pais, que apenas produzem o corpo, graças aos mecanismos do *atavismo  biológico.

     As heranças e parecenças físicas são decorrências dos gametas, no entanto, o caráter, a inteligência e o sentimento procedem do Espírito que se corporifica pela reencarnação, sem maior dependência dos vínculos genéticos com os progenitores.

     Atados por compromissos anteriores, retornam , no lar, não somente por aqueles seres a quem se ama, senão aqueloutros a quem se deve ou que estão com dívidas...

     Cobradores empedernidos surgem na forma fisiológica, renteando com o devedor, utilizando-se do processo superior das Leis de Deus para o reajuste de contas, no qual, não poucas vezes, se complicam as situações, por indisposições dos consortes.

     Adversários reaparecem como membros da família para receber amor, no entanto, na batalha das afinidades padecem campanhas de perseguição inconsciente, experimentando o pesado ônus da antipatia e da animosidade...

     A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências reparadoras, na qual a felicidade e a dor se alternam, programando a paz futura.

     Nem é o grupo de bênção, nem é o élã da desdita.

     Antes, é a escola de aprendizagem e redenção futura.

     Irmãos que se amam, ou se detestam, pais que se digladiam no proscênio doméstico, genitores que destacam uns filhos em detrimentos de outros, ou filhos que agridem ou amparam pais, são espíritos em processo de evolução, retornando ao palco da vida física para a encenação da peça em que fracassaram, no passado.

     A vida é incessante, e a família carnal são experiências transitórias em programação que objetiva a família universal.

                                                                      ***

     Abençoa, desse modo, com paciência e o perdão, o filho ingrato e calceta.

     Compreende com ternura o genitor atormentado que te não corresponde às aspirações.

     Desculpa o esposo irresponsável ou a companheira leviana, perseverando ao seu lado, mesmo que o ser a quem te vinculas queira ir-se adiante.

     Não o retenhas com amarras de ódio ou de ressentimento. Irá além, sim, no entanto, prossegues tu, fiel no posto, e amando...

                                                                       ***

     Não te creias responsável direto na provação que te abate ante o filho limitado física e mentalmente.

      Tu e ele sois comprometidos perante os códigos Divinos pelo pretérito espiritual.

   O teu corpo lhe ofereceu os elementos com que se apresenta, porém, foi ele, o ser espiritual, quem modelou a roupagem no qual comparece para o compromisso libertador.

     Ante o filhinho deficiente não te inculpes. Ama-o mais e completa-lhe as limitações com os teus recursos, preenchendo os vazios que ele experimenta.

     Suas carências são abençoados mecanismos de crescimento eterno.

     Faze por ele, hoje, o que descuidaste antes.

     A vida em família é oportunidade sublime que não deve ser descuidada ou malbaratada.

                                                                          ***

     Com muita propriedade e irretorquível sabedoria, afirmou Jesus, ao doutor da Lei: "Ninguém entrará no Reino dos Céus se não nascer de novo."

     E a Doutrina Espírita estabelece com segurança: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre - tal é a Lei. Fora da caridade não há salvação."
______________

*Vocabulário:


1- atavismo: s. m.

   1. Propriedade de os seres reprodutores comunicarem aos seus descendentes, com intervalo de geração, qualidades ou defeitos que lhe eram particulares.

   2. Semelhança com os antepassados.


2- empedernido adj.

   1. Convertido em pedra.

   2. Que endureceu.

   3. [Figurado]  Insensível, contumaz

3- rentear v.t.
       1. Cortar ou tosquiar rente (cabelo ou pêlo); 

        2. Passar rente a.


4- elã (francês élans. m.
  1. Impulso.

  2. Sentimento de energia e entusiasmo


5- proscênio s. m.

1. Frente do palco, junto à ribalta.

2. [Por extensão]  Palco; cena.
  » Grafia em Portugal: proscénio

     
 6- Calceta (ê) s.m.
    1. O condenado a trabalhos forçados.
__________________

Ângelis, Joanna de, do livro Otimismo, capítulo 57, Ed. LEAL, Salvador/BA, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

sábado, 15 de outubro de 2011

Porque o Perdão

     
     O perdão é um fato, sem que a discussão se apodere do assunto, pois se fundamenta no amor e é sustentado pela caridade*, sem ultrajar a lei da justiça. As susceptibilidades inflamadas perguntam: por que o perdão? Não é justo que defendamos nossa moral, nossos interesses, como fazemos com nosso próprio corpo? A displicência foge à regra. Não negamos que sejamos defendidos, e que a razão se ocupe com a vigilância e forme métodos de defesa, que haveremos de usar. Esta é a nossa posição diante do ofensor.

     Se usarmos o revide para com aqueles que nos atacam, entramos na mesma sintonia da agressão e respiramos o mesmo magnetismo toldado pelo ódio e pela vingança. Perdoar as ofensas e isolar-se dos fluídos inferiores projetados em nós, sem dúvida, é ter serenidade na consciência, pela confiança adquirida através das qualidades conquistadas; é ter certeza, na lei universal, de que somente recebemos o que damos. 

     O perdão anunciado pelo verbo, sem que o coração participe, não deixa de ser o prenúncio da desculpa. Porém, o mundo interior não sente os efeitos desejados no enervante estado psíquico, pela apropriação da maldade na alma. A limpeza interna só é feita com recursos íntimos, que a verdade fornece, e carece de muito exercício para que o hábito se solidifique.

    A glândula que controla as emoções, serenando ou agitando o sangue, inflama-se com determinados pensamentos, vicia-se, e começa automaticamente a perturbar o organismo, ou a colocá-lo na mais elevada serenidade. Se alimentamos ideias de ódio e de vingança, elas, primeiramente, com vibrações sutilíssimas, vasculham todo o nosso cosmo celular, queimando a força vital, desnutrindo-nos e, ao passar pêlos centros energéticos, desencadeiam um mundo de distúrbios, de modo a fazer a alma sofrer as consequências daquilo que provocou.

     Eis porque tornamos a falar em "por que o perdão". Quem pratica a indulgência é o primeiro a ser beneficiado. O misericordioso é invadido pela paz. Os espíritos superiores têm uma serenidade imperturbável, fruto de um perdão incondicional e permanente Assim como a luz de uma lâmpada, para atingir o exterior, tem primeiro de passar pelo material transparente que lhe garanta ambiente refletor, a luz do espírito, a força mental dos pensamentos, antes de ganhar o mundo exterior, é filtrada por vários corpos que lhe garantem, igualmente, o ambiente para viver e progredir. E se nós plasmamos o bem, nessa força ideoplástica, pelo perdão, pela caridade e pelo amor, somos agraciados em primeira mão. Se invertermos essas correntes de luz pelo envenenamento dos nossos sentimentos, a escória mais grossa ficará no fundo da bateia da carne, como alimento indigesto.

     Quem perdoa e fala demais desse gesto natural, buscando elogios, está movido, talvez sem o saber, pela onda ilusória da vaidade. "Como o perdão é dificil..." !

    Também achamos. Não obstante, quem aprendeu a perdoar jamais se esquecerá, por sentir os efeitos de felicidade que advêm desse ato.


Quem pratica a indulgência é o primeiro a ser beneficiado.


*Grifos nossos.
__________________________________________________________
Maia, João Nunes, pelo Espírito Miramez, Horizontes da Mente, Editora Fonte Viva, 14ª Edição, 2001, capítulo 21, págs. 83-85