sábado, 15 de outubro de 2011

Porque o Perdão

     
     O perdão é um fato, sem que a discussão se apodere do assunto, pois se fundamenta no amor e é sustentado pela caridade*, sem ultrajar a lei da justiça. As susceptibilidades inflamadas perguntam: por que o perdão? Não é justo que defendamos nossa moral, nossos interesses, como fazemos com nosso próprio corpo? A displicência foge à regra. Não negamos que sejamos defendidos, e que a razão se ocupe com a vigilância e forme métodos de defesa, que haveremos de usar. Esta é a nossa posição diante do ofensor.

     Se usarmos o revide para com aqueles que nos atacam, entramos na mesma sintonia da agressão e respiramos o mesmo magnetismo toldado pelo ódio e pela vingança. Perdoar as ofensas e isolar-se dos fluídos inferiores projetados em nós, sem dúvida, é ter serenidade na consciência, pela confiança adquirida através das qualidades conquistadas; é ter certeza, na lei universal, de que somente recebemos o que damos. 

     O perdão anunciado pelo verbo, sem que o coração participe, não deixa de ser o prenúncio da desculpa. Porém, o mundo interior não sente os efeitos desejados no enervante estado psíquico, pela apropriação da maldade na alma. A limpeza interna só é feita com recursos íntimos, que a verdade fornece, e carece de muito exercício para que o hábito se solidifique.

    A glândula que controla as emoções, serenando ou agitando o sangue, inflama-se com determinados pensamentos, vicia-se, e começa automaticamente a perturbar o organismo, ou a colocá-lo na mais elevada serenidade. Se alimentamos ideias de ódio e de vingança, elas, primeiramente, com vibrações sutilíssimas, vasculham todo o nosso cosmo celular, queimando a força vital, desnutrindo-nos e, ao passar pêlos centros energéticos, desencadeiam um mundo de distúrbios, de modo a fazer a alma sofrer as consequências daquilo que provocou.

     Eis porque tornamos a falar em "por que o perdão". Quem pratica a indulgência é o primeiro a ser beneficiado. O misericordioso é invadido pela paz. Os espíritos superiores têm uma serenidade imperturbável, fruto de um perdão incondicional e permanente Assim como a luz de uma lâmpada, para atingir o exterior, tem primeiro de passar pelo material transparente que lhe garanta ambiente refletor, a luz do espírito, a força mental dos pensamentos, antes de ganhar o mundo exterior, é filtrada por vários corpos que lhe garantem, igualmente, o ambiente para viver e progredir. E se nós plasmamos o bem, nessa força ideoplástica, pelo perdão, pela caridade e pelo amor, somos agraciados em primeira mão. Se invertermos essas correntes de luz pelo envenenamento dos nossos sentimentos, a escória mais grossa ficará no fundo da bateia da carne, como alimento indigesto.

     Quem perdoa e fala demais desse gesto natural, buscando elogios, está movido, talvez sem o saber, pela onda ilusória da vaidade. "Como o perdão é dificil..." !

    Também achamos. Não obstante, quem aprendeu a perdoar jamais se esquecerá, por sentir os efeitos de felicidade que advêm desse ato.


Quem pratica a indulgência é o primeiro a ser beneficiado.


*Grifos nossos.
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Maia, João Nunes, pelo Espírito Miramez, Horizontes da Mente, Editora Fonte Viva, 14ª Edição, 2001, capítulo 21, págs. 83-85

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